Enquanto não se encontra uma solução para o drama da falta de transporte urbano na cidade de Maputo, no seguimento da visita do Presidente Filipe Nyusi a Empresa Municipal de Transportes Públicos de Maputo(EMTPM) o Executivo desenrascou pneus e baterias, que estão a ser pagos pelos Caminhos de Ferro de Moçambique, para que 30 autocarros imobilizados possam sair do “cemitério” e juntar-se aos 42 que operam na capital moçambicana.
Ao longo dos últimos 16 anos pelo menos nove estudos foram realizados sobre os transportes urbanos na cidade e província de Maputo, todos recomendam uma solução que integre os municípios de Boane, Matola e de Maputo numa denominada “área metropolitana” onde autocarros em faixas de circulação dedicadas e caminhos de ferro se integrassem para no transporte dos munícipes o que contraria a constatação de Filipe Nyusi disse que afirmou que “temos de saber o que queremos com transportes públicos urbanos”, durante a visita que realizou ao cemitério de autocarros na EMTPM, no passado dia 14 de Abril.
A reacção do Chefe de Estado às constatação da incompetência dos gestores e trabalhadores deixou a impressão que Filipe Nyusi tem estado alheio aos dossieres do seu Governo ou é um bom actor teatral, afinal as situações que viu são mais do que conhecidas há vários anos.
Aliás a afirmação do Presidente Nyusi sobre a necessidade de uma reestruturação profunda mas que não consista apenas na substituição dos quadros que estão na liderança e muito menos os que asseguram a sua operatividade, mas sim num exercício de transformação e clarificação de responsabilidades no local de trabalho é ambígua.
Também ambígua foi a afirmação de que “agora estamos a afundar dinheiro” mas uma das decisões que Nyusi e o seu Executivo tomaram foi justamente gastar mais dinheiro na Empresa Municipal de Transportes Públicos de Maputo, não só em mais autocarros que em breve chegarão ao país mas também em usar fundos dos Caminhos de Ferro de Moçambique para adquirir 180 pneus e 80 baterias que alegadamente irão reanimar 30 autocarros dos 215 que estão avariados.
Todavia, apesar de mais esta injecção, os gestores da EMTPM continuam a revelar a sua incompetência em reparar as centenas de autocarros que jazem nos seus parques. Na passada sexta-feira(05) o ministro dos Transportes e Comunicações, Carlos Mesquita, visitou a empresa e pôde ver que as medidas paliativas em curso não foram efectivadas.
Um dos exemplos mais gritantes é a falta de informação objectiva sobre as causas das avarias dos autocarros assim como que necessidades reais existem para os reparar. Paralelamente o Conselho de Administração, liderado há mais de 4 anos por Maria Iolanda Wane, admitiu que é enganada pelos seus mecânicos e por isso prefere sub-contratar a privados as reparações das viaturas.
Questionada pelo @Verdade sobre o número de autocarros que a empresa efectiva possui Maria Iolanda Wane disse que tem “medo de falar nisso porque nós temos conceitos próprios, nós temos uma determinada nomenclatura que infelizmente não é bem entendida e tecem-se considerações. Frota nominal, frota operacional, frota disponível, frota efectiva, frota imobilizada, frota avariada”.
Por outro lado o Conselho de Administração da Empresa Municipal de Transportes Públicos de Maputo tem convicção que os 749 trabalhadores que possui são em demasia para as necessidades da instituição, representam 60% dos custos operacionais.
Gestores medíocres que estão a hipotecar a economia e a qualidade dos serviços de transporte: Armando Guebuza e Paulo Zucula
Ao @Verdade a Presidente do Conselho de Administração(PCA) da Empresa Municipal de Transportes Públicos de Maputo revelou que foi apresentado há algum tempo um plano de despedimentos mas o Governo até hoje não decidiu.
Contudo, e olhando para as soluções existentes para a “área metropolitana de Maputo”, o futuro da EMTPM é cada vez mais sombrio e o futuro dos trabalhadores será provavelmente buscarem emprego nos operadores privados a quem o Governo pretende entregar a gestão do transporte urbano de passageiros.
Outro problema da EMTPM é a cobrança das passagens, dados da empresa indicam que 40% não entram para os cofres, são portanto desviadas pelos cobradores e motoristas durante a operação. A solução estudada e testada é a venda pré-paga dos bilhetes, como aconteceu durante algum tempo com a iniciativa Mbora lá que entretanto desapareceu.
“O Mbora lá morreu, mas quem pode dar informação é o Fundo de Transportes, nós estávamos a servir de experiência piloto, nós fomos seleccionados para teste piloto e de facto fizemos o que nos mandaram fazer que é de cobrar utilizando aquele sistema. Chegou um período e disseram pára” declarou ao @Verdade a PCA da EMTPM.
Portanto existem difíceis decisões políticas que devem ser tomadas mas o Presidente e o seu Executivo têm preferido protelar e continuar nas decisões Ad hoc quiçá por que elas custam dinheiro que Moçambique nem momento não tem nem tem onde pedir mais, tendo em conta que a Dívida Pública está insustentável. Por exemplo para a aquisição dos pneus e baterias o Governo recorreu aos sempre disponíveis cofres dos Caminhos de Ferro de Moçambique.
Enquanto viajamos nos “my love” ou espremidos nos “chapas” importa não esquecermos que a solução de criação de um sistema integrado com os vários modos de transportes, no âmbito plano director de mobilidade e transporte para a denominada área metropolitana de Maputo, e estava orçado até ao ano passado em 330 milhões de dólares norte-americanos, muito menos do que os 2 biliões de dólares norte-americanos gastos ilegalmente em barcos para a pesca de atum e alegada monitoria da costa.
Após a visita a EMTPM o Presidente da República orientou uma reunião do Ministério dos Transportes e Comunicações onde disse, entre outras frases populistas, “Estamos a pagar dívidas de coisas que não funcionam”, exigiu a responsabilização de gestores envoltos nas operações de agenciamento, “temos de ir aos ficheiros e averiguar para descobrir quem permitiu isso”.
Se Filipe Nyusi tem amnésia e ninguém tem coragem de o recordar Armando Emílio Guebuza e Paulo Zucula são dois dos “gestores” “medíocres que estão a hipotecar a economia e a qualidade dos serviços”.
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