A idade média legou-nos instituições fundamentais das quais a universidade faz parte, e esta,carrega um valor imprescindível. Mais do que qualquer outra escola, a universidade influenciou com exclusividade a produção intelectual da Europa. Rashdal (1985).
As universidades devem desenvolver mentes criativas para resolver os problemas do futuro das sociedades e da humanidade. Na universidade, ensino e pesquisa são gémeos inseparáveis. sefidevach, (1994).
Universidade refere-se a instituições de ensino superior que “gozam de autonomia didático científica, administrativa e de gestão financeira e patrimonial, e obedecerão ao princípio de indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão” Silva e Melo (2010).
Conforme o exposto acima, depreende-se que as universidades têm ou deviam ter como apanágio o ensino e pesquisa. Proponho-me nesse texto. refletir acerca das possibilidades ou impossibilidades existentes no âmbito do desenvolvimento da pesquisa nas universidades em Moçambique. Partindo da minha experiencia enquanto estudante de sociologia na universidade Eduardo Mondlane e dirigente da agremiação estudantil da mesma universidade no respectivo curso. Coadjuvado ainda nas experiências obtidas a partir da interação com estudantes e ex-estudantes, pesquisadores e docentes de várias outras instituições de ensino superior.
As universidades em Moçambique tal como outras universidades de África e do mundo pautam, pelo menos a nível legislativo pela investigação no processo de produção do conhecimento científico. Ou seja, a lei de ensino superior (lei n° 27/2009) em Moçambique prevê que as universidades devem enveredar pela pesquisa, tanto é que para a constituição destas há um certo número (um terço) de Doutores e mestres que são exigidos como recursos humanos permanentes das instituições de modo a que estimulem pesquisa. Ora, está comprovado que o nível de produção de conhecimento científico nas nossas universidades está a quem das expectativas. Daí que nos questionamos sobre os motivos dessa não produção e se há possibilidades para uma face melhorada a este cenário.
A universidade Eduardo Mondlane, é a maior e mais antiga universidade de Moçambique. Portanto alberga maior número de pesquisadores e/ou docentes, daí que toma-la como base para analisar-se a problemática da produção de conhecimento científico tem alguma lógica em meu entendimento.
Não se pode negar que esta universidade tem empreendido um grande esforço de modo a impulsionar a investigação científica em Moçambique. Exemplos concretos que podem ser tomados como referência é o fundo para investigação que esta universidade criou de modo a impulsionar docentes a investigarem, as bolsas de estudo que em cooperação com outras instituições são concedidas a docentes e estudantes daquela universidade de modo a que continuem seus estudos, outrossim, desde a sua fundação várias obras foram lançadas por pesquisadores vinculados a esta instituição.
Ora apesar deste empreendimento de catapultar a investigação em Moçambique afigura-se ainda insuficiente para o pretendido. Tanto pelo numero como pela qualidade do que se produz. Aliás, este último factor é de grande importância, pois as publicações são o meio pelo qual os cientistas comunicam-se entre si internamente e no exterior. Ou seja, a inserção dos nossos cientistas no debate público nacional e internacional depende daquilo que escrevem. É uma espécie de catálogo para discussão, portanto se o que escrevem e publicam não eh profícuo nos meandros científicos, serão excluídos do debate e tomados como improdutivos e inúteis a ciência. E digo, por se tratar de África, no caso de Moçambique, África lusófona enfrentaremos uma dupla negação. Negação pela pertença e negação pela língua.
África depara-se com a questão da negação à racionalidade com base na pertença jaz séculos, embora seja em África concretamente no Egipto que os fundamentos da ciência moderna estão enraizados. Mucale (2013). Ademais, Para além da negação pela pertença, a língua afigura-se também um grande entrave na medida em que as produções científicas em língua oficial portuguesa encontram no panorama internacional um certo desnível em relação ao inglês e francês. Daí que autores como Nhampoca, inspirado em Paulin Huntondji (grifo meu) quando fala da desconstrução do rótulo sobre a ideia de África vê a necessidade de uma liberdade científica baseada na língua (Nhampoca, 2012).
Destarte é preciso apostar na qualidade de modo a evitar cair nas malhas da dupla negação. Segundo Achile Mbembe citado por Serra (1997) os estados africanos, dos quais Moçambique faz parte são estados-teólogos, pois tem uma permanente aspiração ao monopólio da verdade (conhecimento). O que de certo modo cerceia a liberdade dos cientistas escreverem na medida em que são policiados, frequentemente perseguidos, mal pagos, impelidos a escrever em última instancia o que as elites estaduais lhe impõem. Serra (1997). Estes factores comprometem grandemente a possibilidade de produção do conhecimento científico imbuído de neutralidade axiológica que lhe deve ser intrínseca.
Patrício Langa, sociólogo moçambicano orientou a convite do núcleo de estudantes de sociologia da UEM uma palestra no dia 31 de Maio de 2017 com o tema Desutlizar a universidade: O que significa estar a estudar numa organização de investigação? Nessa palestra o autor levantou aspectos com os quais corroboro em parte, que são pouco observados quando se discutem questões relativas ao papel das universidades que de certa forma estão ancoradas a produção de conhecimento científico como fizemos alusão no limiar do texto. As questões são relativas a desutilização das universidades, que significa dizer que as universidades devem deixar de ser vistas como um fim em si mas sim como um meio. Pois as universidades tem como apanágio a produção de conhecimento e só depois disso é que esse conhecimento produzido por elas poderá de forma latente servir as outras esferas da sociedade.
Mas o que se verifica na visão deste autor, é que as universidades transformam-se em supermercados (grifo meu), em que se vai tendo dinheiro, adquirir produtos. Isso faz com que o conhecimento produzido seja deficiente dado a urgência na produção do mesmo e a necessidade de soluções imediatas ao problema em voga.
Ainda na senda de transformação das universidades em supermercados, noto que a adesão as universidades não coadunam com apanágio das universidades. Muitas pessoas (inclusive eu) ingressam ou ingressaram à universidade não com o intuito único de produzir conhecimento científico, mas usa-se a universidade como uma forma de alívio da pobreza (falta de condições económicas). Ou seja, em Moçambique um diploma pode mudar a nossa condição económica, aliás as tabelas salariais na função pública são claras com relação a este assunto. Os que têm um diploma auferem salários superiores aos que não o tem. Mesmo que as capacidades do desprovido sejam muito a cima dos que tem. E isto faz com que haja essa adesão massiva as universidades. Tenho experiência de organizar debates na universidade e convidar estudantes a participarem e responderem que a sua única preocupação é a aquisição do diploma, e que os debates não passavam de perca de tempo.
Entendo que há que se desutlizar a universidade também a esse nível. Como isso é possível? A melhor forma no meu ponto de vista é tornar a universidade não atractiva aos caça diplomas. Pagando as pessoas pelo trabalho que fazem e não em função do diploma que ostentam. Fazer que os que tem queda pelas artes, possam fazer dela meio de subsistência ou seja se eu sei cantar, declamar, actuar, pintar, dançar etc. Possa ganhar dinheiro a partir disso. E também criar possibilidades dos que tem pretensões empreendedoras possam igualmente sê-lo. Assim a universidade seria uma instituição cujos frequentadores seriam maioritariamente potenciais pesquisadores. Uma espécie de tipo ideal, assumo.
Por André R. Cardoso
Universidade Eduardo Mondlane
Departamento de sociologia (IV ano)
Núcleo de Estudantes de Sociologia (NES-UEM) – Vice presidente.
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