Sou um jovem residente na autarquia da Matola, no posto administrativo da cidade da Matola, bairro da Liberdade. Concorri para membro de mesa de voto no STAE distrital da Matola, para trabalhar como MMV no bairro da Liberdade. O concurso a MMV era de carácter público, o que significa que todo o interessado podia concorrer, bastava que para a submissão da candidatura reunisse alguns requisitos básicos, dentre estes ser moçambicano e ser maior de 18 anos.
Os requisitos “oficiais” propostos pelo STAE estavam à disposição de qualquer cidadão moçambicano comum. Para além destes requisitos, para admissão a MMV, seria necessário fazer-se uma entrevista, que tinha como alguns assuntos a abordar as leis: 2/2019; 3/2019;4/2019;4/2019;5/2019;6/2019;7/2019 todas de 31 de maio e a cultura geral.
Preparamo-nos para entrevista tendo em conta a legislação proposta, tentando também pesquisar o que seria abordado na cultura geral, mas para minha surpresa e “nossa” , muitos dos candidatos ao sair da sala onde decorria a entrevista, ao responder a perguntas feitas por nós sobre as perguntas que lhe foram feitas ou que estavam a ser feitas no geral, simplesmente diziam: “tive sorte, não me foi feita nenhuma pergunta em especial, só me mandaram entrar e sentar, confirmar o meu nome e depois desejaram-me boa sorte, mandando-me sair” , outros candidatos como o citado acima tiveram a mesma “sorte” , outros como eu, tiveram o azar de durante a entrevista ser-lhes feita algumas questões, questões fáceis de responder, como por exemplo: quem é o governador da província de Maputo? Quem é o diretor do STAE? Quem é o presidente da CNE? O que significa CNE e STAE?
Estas perguntas para o ambiente que era vivido no dia das entrevistas, eram fáceis de responder, na medida em que, sempre que saia um candidato já entrevistado, as pessoas colhiam informações neste, e como eram sempre as mesmas perguntas, feitas para mais de uma centena de pessoas, era fácil ter as respostas em decor.
Mas, o que inquietava a maioria de nós candidatos, era o critério usado pelos entrevistadores para fazer e não fazer questões aos candidatos, pois a primeira vista, pensávamos não serem susceptíveis de perguntas pessoas de aparência mais “madura” , mas depois de alguns minutos, pessoas de aparência mais jovem, muito jovem diga-se, saiam da sala de entrevista com o mesmo argumento “não me foi feita nenhuma questão”, naquele momento todos desejávamos que acontecesse o mesmo connosco. Pairava nas nossas mentes que concorríamos em circunstancias iguais, logo, o tratamento devia ser igual para todos.
Apesar de alguns “sortudos” não lhes ter sido feita alguma questão, para os “azarados” como eu, servia de consolo a ideia de que “nos foram feitas questões fáceis de responder e então não havia problema em aceitar a sorte de alguns”.
Passada uma semana e alguns dias, ao se verificar o resultado das entrevistas, notou-se que as notas variavam de quatro a dezanove valores (4-19), até aí tudo bem, é normal haver uma variação tão grande num processo selectivo desta envergadura. A
indignação reside no facto de que pessoas que não lhes foi feita questão alguma, tem notas como “19 valores” e outros que responderam de forma assertiva questões como: quem é o governador da província de Maputo, tiveram “4 valores”, não se percebe aqui os critérios usados para atribuição das notas, nem a veracidade das mesmas, o que foi feito no dia da entrevista foi seleccionar pessoas previamente conhecidas pelos entrevistadores, pessoas que vestem a mesma cor partidária e excluir todos os cidadãos filiados a outros partidos políticos e nós a maioria apartidária, pois, na dúvida entre saber distinguir fiel, infiel e neutro, ficam os fiéis e os outros são farinha do mesmo saco.
A selecção dos MMV para mim, representa o xeque-mate a democracia em Moçambique, representa o aumento da partidarização das organizações eleitorais, (não que em Moçambique elas já não estejam altamente partidarizadas), o problema aqui, é o jogo sujo feito pelo partido no poder sem que os outros concorrentes prestassem atenção, pois, qualquer cidadão em plena consciência entende o papel jogado pelos membros da mesa de voto nas eleições moçambicanas.
Escrevi este texto para o jornal “a verdade” por entender que este, diferente dos muitos meios informativos, está isento de influencias partidárias e que presa a verdade como noticia e também representa a minha frustração e de muitos, não por não ter sido seleccionado, mas por perceber que o processo selectivo foi manchado de vícios e de subjectividade gritante para um processo que é estruturante para a manutenção da paz e democracia em Moçambique. Subscrevo-me com a mais elevada consideração.
* O autor desta carta pediu anonimato
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