1. Análise de conteúdo: pedi no número anterior que reparassem no facto de os destinatários do
sms seram considerados mero receptáculo da mensagem, objecto passivo cuja função era unicamente a de registar e proceder conforme, em consonância com um suposto e implícito núcleo primordial de grevistas digamos que por geração espontânea (tom profético, inexorável: "vai haver grande greve..."). Em segundo lugar, tenha-se em conta a enumeração caótica dos supostos males sociais, tendo à cabeça as
barracas removidas (talvez aqui resida a chave da mensagem). No primeiro caso ordena-se, no segundo impõem-se as razões da greve. Mas não só. Não há um público alvo, específico, não há profissões, classes de trabalhadores: nada disso é considerado necessário. Não se convoca uma greve, impõe-se algo exterior e atemorizador a um social vazio de social, como se se impusesse a greve à greve, como se, enfim, estivessemos confrontados com um misterioso
putsch. A produção prescritiva e desregradora teve o fecho da abóbada com a produção apelativa do caos, como mostrarei no próximo número.
Imagem reproduzida daqui.
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