Por: Adelino Timóteo
Nos anos 2000/2007, quando ocorria a privatização dos CFM, Filipe Nyusi era director executivo dos CFM–Norte.
Em 2007, tornou-se administrador dos CFM, mas já era homem-de-mão de Joaquim Alberto Chipande.
O reinado de Nyusi na direcção executiva dos CFM–Norte iniciou-se em 1995 e coincide com o momento em que o CFM operava a mudança de empresa estatal para empresa pública.
Como administrador dos CFM, o miúdo Nyusi fazia a gestão do Porto de Maputo, das linhas de Nacala e do Norte e da Linha de Sena.
Quer dizer, Nyusi é um dos protagonistas do processo de privatização dos CFM.
Quando, nos anos 2000 e 2005, o Porto de Nacala manuseou, respectivamente, 673 mil toneladas e 875 mil toneladas, ele era lá o timoneiro.
Em 1998, o CFM iniciou o processo de concessão.
Como director executivo da linha CFM-Norte, que compreende as linhas de Nacala, Cuamba/Lichinga e Porto de Nacala, Nyusi assistiu serenamente à desvinculação de 2682 trabalhadores. Em todo o país, a reestruturação dos CFM custou o emprego a 19 387 trabalhadores.
O CFM, que se pretendia viável, privatizou tudo até 2005 sob o olhar complacente de Nyusi. Como gestor dos CFM, Nyusi melhorou algo?
Nyusi não deixou nenhum legado nos CFM. Os CFM continuam à deriva. Não deixou obra assinalável nos CFM.
Não se conhece eficiência nem rentabilidade assinalável nos CFM. Os CFM continuam no vermelho. É uma empresa que mama do erário público. Os parceiros selecionados para gerirem os diversos ramos não acrescentaram nenhum valor aos CFM.
A ascensão de Nyusi para a administração dos CFM coincide com o decurso das obras da linha de Sena, concessionadas, em 2006, à empresa indiana RITES. Os resultados foram catastróficos. Estava prevista a operacionalização da linha Beira/Machipanda. Esta, tal como a linha Moatize/Beira, operam em condições deficitárias.
Em 2005, Nyusi esteve directamente envolvido na concessão a privados da linha do Norte e de Nacala e o resultado foi negligente.
A Sociedade de Desenvolvimento do Corredor do Norte (SDCN) é uma empresa com três acionistas. Um deles é o grupo “Manica”, que pertence a Chipande, padrinho do Nyusi. Como administrador dos CFM, Nyusi cruzou os braços quando parte do financiamento pedido para a manutenção da via da linha do Norte conheceu rumo desconhecido.
Deste que pretende ser presidente não se conhece nenhuma acção enérgica para travar o desfalque ou responsabilizar os culpados.
O aparecimento de Nyusi na política não difere em nada do processo de criação da elite económica no país, da criação da burguesia nacional, cujos interesses e meios se lhe impõe salvaguardar, se for eleito presidente. Nyusi aparece na política da seguinte forma: nos anos 90, quando Alberto Chipande deixou de ser ministro da Defesa, um moçambicano natural da Beira convidou-o (ao Chipande) no sentido de os moçambicanos terem uma participação significativa na gestão do corredor do Norte.
A ideia da concessão a privados da linha do Norte tinha em vista acomodar e aglutinar os empresários-políticos do Norte. E Nyusi facilitou ao padrinho neste processo de equilíbrio com o Sul.
Hoje, com a indústria extractiva petrolífera emergente em Cabo Delgado, Nyusi tem a missão de garantir o enriquecimento dos generais do Norte (Raimundo Pachinuapa, ex-governador de Cabo Delgado; Lagos Lidimo, ex-chefe do Estado-maior General das FAM–FPLM e das FAM – Forças Armadas de Moçambique) no concurso para o gás e o petróleo, através da empresa “Quionga Energia, SA”. Deverá manter forte o compromisso político entre os changanas e os macondes, como é o apanágio desde a luta armada. Chipande é um homem influente da Comissão Política e do Comité Central. O casamento de Joaquim Alberto Chissano com Marcelina Chissano é antropologicamente a ponta visível deste compromisso changana/maconde. Nyusi deverá garantir os interesses Centro-Norte da elite política changana/maconde nas areias pesadas de Moma e no carvão de Moatize.
Chipande, que, em 1991, assinou os estatutos da Frelimo, é o quinto, na lista da sucessão hereditária na Frelimo.
O que significa que a colocação de Nyusi tem em vista acomodá-lo, já que Chipande, 76 anos, foi descartado da sucessão por ter idade avançada.
Nyusi tornou-se claramente o delfim de Chipande (ministro da Defesa durante duas décadas, logo após a Independência Nacional, em 1975), desde que, em 2008, ascendeu a ministro da Defesa.
Nos últimos dias, ventila-se sobre as ilegalidades da pré-campanha de Nyusi com o recurso aos fundos do Estado.
É só um prenúncio.
Aos que muito esperam de Nyusi, comecem já a baixar as expectativas. Se ele for presidente, teremos verdadeiramente um verdadeiro pau-mandado na Ponta Vermelha.
É um dos responsáveis da guerra civil que o país vive, esta guerra onde informações não oficiais indicam que já morreram mais de três mil jovens. É um dos cúmplices visíveis na falcatrua de 850 milhões de dólares usados na compra de trinta barcos-patrulha, vulgo traineiras.
Um negócio com espectro de crime organizado, que prejudica mais de sessenta por cento dos moçambicanos na pobreza absoluta.
Nyusi terá que fazer um jogo de cintura para conciliar os interesses e os conflitos de interesse de Chipande e Guebuza no concurso para os hidrocarbonetos.
Está dito.
O resto são contos da carochinha.
Canal de Moçambique – 09.04.2014
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segunda-feira, 14 de abril de 2014
O pau-mandado Nhusy
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