A população do distrito de Murrupula, sobretudo a da vila sede e do posto administrativo de Cazuzo, acusa o governo local, na pessoa do chefe do posto sede, de estar a torturar os residentes e a apropriar-se dos seus bens e produtos agrícolas que têm vindo a expor na feira de troca de produtos localizada na zona do Mmwatho, a 15 quilómetros da vila.
O chefe do posto da vila sede do distrito de Murrupula tem vindo, com os agentes da Força de Intervenção Rápida (FIR) fortemente armados, a obrigar a população a pagar um imposto, a taxa diária de permanência na feira de venda e troca de produtos agrícolas, além de um suposto imposto ligado à cobrança de balanças para os que compram produtos como amendoim, milho, feijão, castanha de caju, arroz, entre outros produtos.
Um dos exemplos concretos deu-se no último sábado quando um grupo de agentes da lei e ordem fortemente armado fazendo-se transportar em dois camiões e uma viatura de caixa aberta chegou ao local e desapropriou os vendedores de todos os seus produtos alegadamente por não estarem a pagar o imposto de rendimentos dos mercados e outras taxas diárias cobradas naquela feira.
A nossa reportagem apurou no local que os vendedores e a população em geral eram agredidos fisicamente, torturados, e desapropriados os produtos. O chefe do posto, acompanhado de membros da FIR, molestou e humilhou a população e só não houve tiroteio porque os feirantes não reagiram.
"Bateram-nos muito e muita gente perdeu quase tudo. Todos éramos abordados e cobravam-nos coercivamente o imposto, cujos valores variavam entre 150 e 250 meticais, dependendo do volume da mercadoria", contou um dos vendedores da feira de um grupo que nos procurou para expor as suas preocupações.
Marieta, de 36 anos de idade, é vendedeira de cabanga na feira de Mmwatho e disse que o que se viveu no último sábado naquele local foi bastante triste, tendo-se recordado das ondas de assaltos nos anos 70 e 80, em que ninguém podia queixar-se ou tecer qualquer tipo de opinião.
"O que o chefe Lino fez foi muito triste. Ele trouxe polícias para arrancar todos os nossos produtos", disse para depois acrescentar que o mais lamentável, de tantas outras coisas que aconteceram, foi ver um idoso a ser desapropriado de seis galos que estava a vender a 150 meticais cada.
Lourenço Hermínio, de 24 anos de idade, vendedor de roupa usada no mesmo local, começou por dizer que perdeu tudo o que tinha quando tentava fugir do local por medo da agressão dos homens da FIR.
"Quando vi o terror que estavam a semear nas pessoas, pus-me a correr pois todos fugiam deixando as suas mercadorias. Com alguma sorte, alguns vendedores tentavam carregar o que podiam e os que conseguiram levar alguma coisa perdiam pelo caminho durante a fuga", contou.
Hermínio disse ainda que o chefe do posto sede também se fazia acompanhar de alguns funcionários da administração do distrito, sobretudo dos diversos sectores ligados ao gabinete da administradora.
O nosso entrevistado afirmou que os bens e produtos dos vendedores foram recolhidos pelos dois camiões. "O mais revoltante é estarem a arrancar-nos as mercadorias para oferecerem a outras pessoas. Foi um verdadeiro assalto", lamentou.
Maurício João, de 21 anos de idade, classificou a acção da polícia e do governo distrital de uma provocação e violação aos direitos humanos, afirmando que não havia motivos para que aquilo acontecesse. "Num país como este deve-se pautar pelo diálogo e não pela agressão física como tem agido o Governo da Frelimo", disse e acusou administradora do distrito de não fazer nada para melhorar a vida da população, além de não amar o seu povo.
João contou que de toda a mercadoria da população, nomeadamente produtos alimentares, animais, roupa, electrodomésticos, material de limpeza, bicicletas, entre outros, que foi levada pelo governo do distrito, quase metade encontra-se nas mãos dos agentes da lei e ordem, do chefe do posto e dos funcionários da administração. O nosso entrevistado fez saber que tudo o que é exigido à população é ressarcível, bastando um esclarecimento sobre a importância do pagamento do imposto.
Um outro cidadão que falou à nossa reportagem é um líder comunitário do primeiro escalão do posto administrativo sede. Segundo ele, a Frelimo, o chefe do posto, os membros da lei e ordem e a administradora do distrito devem preparar-se porque terão a resposta a qualquer momento.
O régulo que falou na condição de anonimato apontou o dedo ao chefe do posto e à administradora, acusando-os de terem planeado torturar a população de Cazuzo que procura o sustento diário nas feiras. O líder comunitário questionou aos responsáveis do governo no distrito de Murrupula as reais razões que levaram à tortura e apropriação dos bens e produtos agrícolas dos vendedores.
Entretanto, a nossa reportagem tentou sem sucesso contactar o chefe do posto sede João Lino. O mesmo aconteceu em relação à administradora que alegou estar reunida, razão pela qual não podia falar.
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