Como cogumelos depois da chuva, o negócio desordenado e sem a observância de quaisquer medidas de segurança, de medicamentos tradicionais galopa, qual um cavalo sem freio, pelas ruas e avenidas da cidade de Nampula. Quase todos os dias, nas principais artérias da urbe surge um novo vendedor prometendo milagres, desde a cura de uma simples dor de cabeça, passando pela diabetes até o HIV/SIDA.
Para quem está habituado a circular pelas artérias da cidade de Nampula, talvez não se sinta surpreendido com o crescente número de pessoas que a cada dia que passa assalta os passeios para se dedicar a uma actividade que está a ganhar contornos alarmantes: a venda de medicamentos tradicionais.
As vítimas desse negócio aparentemente inofensivo são mulheres e homens que embarcam nas promessas de pessoas que não entendem patavina sobre as plantas medicinais. Trata-se de um negócio que cresce a olhos vistos sob o olhar impávido das autoridades.
A situação já começa a preocupar a Delegação Regional Norte da Associação dos Médicos Tradicionais de Moçambique (AMETRAMO), que considera bastante preocupante, além de ser um autêntico atentado contra a saúde pública, uma vez que presentemente se tem verificado com muita frequência nas diversas artérias da urbe a um movimento de pessoas a instalarem-se nos passeios para se dedicarem à actividade.
Os vendedores perscrutam os transeuntes e usam todo o tipo de argumento para vender os medicamentos tradicionais. Eles prometem de tudo, desde a cura de dores de barriga, cólera até ao HIV/SIDA, além de garantirem que possuem remédios para as mulheres estéreis.
Numa ronda feita pelas ruas de Nampula, a nossa reportagem testemunhou um facto insólito. Deparámos com um grupo de mulheres carregadas de diversas raízes perscrutando potenciais clientes em locais de grande aglomeração.
Elas interpelavam as pessoas e informavam- nas de que dispunham de medicamentos tradicionais para a cura de doenças como HIV/SIDA, malária, dores de cabeça, diarreias e outras enfermidades que eventualmente os técnicos de medicina não conseguem diagnosticar.
A Delegação Regional da AMETRAMO, nesta província, mostra-se preocupada face à venda desregrada de medicamentos tradicionais e a respectiva ingestão sem a observância de quaisquer cuidados na dosagem, colocando em risco a vida das pessoas que procuram pelos remédios.
O delegado da agremiação, Miguel Kupula, afirmou que em função dessa inquietação aquela associação está a desenvolver um trabalho em parceria com as autoridades que superintendem o sector de Saúde na província e o Concelho Municipal da Cidade de Nampula, na perspectiva de a curto prazo acabar com o desmando instalado.
"O perigo é grande. Sabemos que a venda desses medicamentos tradicionais nas ruas da cidade é feita por pessoas que não são praticantes da medicina tradicional e para os quais qualquer raiz de uma planta é medicamento, uma vez que lhes interessa ganhar dinheiro e não o bem-estar dos outros.
Apelo às pessoas para não comprarem esses remédios", disse acrescentando que Nampula tem vindo a registar uma subida galopante de médicos tradicionais falsos, mesmo com as campanhas levadas a cabo pela AMETRAMO no sentido de sensibilizá-los a não realizar as suas actividades ilegalmente e a filiarem-se à organização deixando de desenvolver a sua actividade nas ruas da urbe.
E para combater a proliferação de médicos tradicionais, não somente na cidade de Nampula, como noutras províncias da região Norte do país, a Delegação Regional da AMETRAMO encontra-se a fazer um trabalho visando registar todos os praticantes da medicina tradicional em coordenação com o Ministério da Saúde.
As vítimas dos medicamentos tradicionais adquiridos nas ruas
O médico tradicional Miguel Kupula, que também é delegado provincial da AMETRAMO em Nampula, afirmou que a sua agremiação nos últimos dias tem vindo a receber denúncias de muitos indivíduos intoxicados devido ao consumo desregrado de medicamentos tradicionais que, muitas vezes, são vendidos em diferentes ruas da cidade de Nampula.
Kupula referiu que grande parte das denúncias é feita por pessoas que compraram medicamentos nas ruas na expectativa de se curarem duma determinada doença.
A título de exemplo, um cidadão de nome José Campemba Mubulela adquiriu um remédio supostamente para curar dores de barriga. Porém, o medicamento provocou-lhe diarreias agudas, tendo sido internado no Centro de Tratamento de Cólera.
O caso foi reportado no passado mês de Maio do presente ano, e o vendedor do medicamento não foi identificado.
"Ele pediu para que pudéssemos ajudar a identificar a pessoa que lhe vendeu os medicamentos. O que pudemos apurar é que se trata de um indivíduo que se apresentou como médico tradicional " disse Kupula.
O nosso entrevistado afirmou que várias tentativas foram feitas no sentido de se identificar o autor do tal mal, mas até ao momento não foi encontrado.
Que diz a Polícia?
A Polícia da República de Moçambique (PRM), a nível da província de Nampula, não dispõe de dados concretos de casos de pessoas que teriam sido intoxicadas por consumo de medicamentos tradicionais, uma vez que a sua maioria não chega às mãos da corporação.
Inácio João Dina, porta-voz do Comando Provincial da PRM em Nampula, afirmou não ter dados estatísticos, mas disse que muitos são os casos foram registados nas esquadras a nível da província.
"A maioria dos casos é resolvida socialmente e quando chega às mãos da Polícia é porque não se chegou a um consenso", assegurou Dina que pediu na mesma ocasião à população para que tome consciência em relação a essas situações de consumo de medicamentos, tanto os tradicionais como os convencionais (fármacos).
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